Brasil deixa Mapa da Fome após quatro anos, mas insegurança alimentar ainda atinge 35 milhões

Brasil deixa Mapa da Fome após quatro anos, mas insegurança alimentar ainda atinge 35 milhões

Após quatro anos em alerta, o Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome das Nações Unidas. A atualização, baseada em dados de 2022 a 2024, indica que o país voltou a registrar menos de 2,5% da população em situação de subnutrição — critério utilizado pela ONU para classificar a insegurança alimentar grave em nível nacional.

A conquista foi impulsionada pelo programa Brasil Sem Fome, lançado em 2023, que já tirou 24 milhões de brasileiros da extrema carência alimentar. A meta inicial do governo era alcançar esse resultado até 2026, mas os indicadores foram antecipados em um ano.

Apesar da melhora, o problema estrutural permanece. O último relatório da ONU aponta que 35 milhões de brasileiros ainda convivem com algum grau de insegurança alimentar — uma condição em que famílias não sabem se terão comida suficiente ou de qualidade nos próximos dias.

O desafio é ainda maior em regiões como o Norte e o Nordeste, onde os índices de insegurança grave chegam a 7,7% dos domicílios, contra 2% no Sul. A disparidade regional revela que, embora o país tenha avançado em políticas públicas, os efeitos ainda não são uniformes.

A contradição brasileira salta aos olhos. O país está entre os cinco maiores produtores de alimentos do planeta, mas segue enfrentando dificuldades para garantir acesso pleno à alimentação para toda a sua população. Especialistas apontam dois fatores principais: o poder de compra ainda restrito de parcelas significativas da população e o modelo produtivo agropecuário fortemente voltado à exportação, com baixa prioridade para o abastecimento interno.

Em paralelo, cresce o número de brasileiros obesos: a taxa saltou de 19,1% para 28,1% em dez anos, atingindo mais de 45 milhões de pessoas. O dado escancara um paradoxo nacional: fome e obesidade convivem lado a lado, revelando um padrão alimentar cada vez mais desequilibrado, marcado por alimentos ultraprocessados e baixa qualidade nutricional.

No cenário global, a ONU estima que entre 638 milhões e 720 milhões de pessoas ainda passem fome, concentradas majoritariamente na Ásia e na África. A saída do Brasil do Mapa da Fome é, portanto, um marco relevante, mas não o fim da crise alimentar nacional. A insegurança persiste — e com ela, o dever de ampliar e sustentar políticas que garantam o direito básico à alimentação.

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