Bolsonaro lidera ato na Paulista e pressiona por anistia aos condenados do 8 de Janeiro
Em mais um movimento de forte apelo popular, o ex-presidente Jair Bolsonaro voltou às ruas neste domingo (7) para liderar uma grande manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. O objetivo: pressionar o Congresso Nacional pela aprovação de um projeto de lei que concede anistia aos mais de 500 condenados pelos atos do dia 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas.
Ao lado de governadores aliados como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), Bolsonaro atraiu uma multidão maior do que aquela reunida em Copacabana, no Rio de Janeiro, há apenas três semanas. O evento também contou com a presença de senadores, deputados federais e estaduais, além de líderes religiosos e representantes do agronegócio.
“Perseguido” e símbolo do batom
Em seu discurso, o ex-presidente voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando ser vítima de perseguição política e chegando a declarar que “seus opositores querem sua morte”. Também minimizou os atos de 8 de janeiro: “Somente um psicopata para dizer que aquilo foi uma tentativa de golpe”, disparou.
Um dos momentos mais emblemáticos do ato foi a adoção de um batom como símbolo da manifestação, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues, que ficou quase dois anos presa após escrever “Perdeu, mané” — frase dita pelo ministro Luís Roberto Barroso a apoiadores de Bolsonaro — na estátua da Justiça, em frente ao STF, usando um batom vermelho.
Débora se tornou um símbolo da causa bolsonarista. Recentemente, ela obteve o direito ao regime domiciliar, mas ainda enfrenta a possibilidade de ser condenada a até 14 anos de prisão, segundo proposta do ministro Alexandre de Moraes.
Mais de 500 condenados e penas de até 17 anos
Desde os ataques em Brasília, o STF já condenou mais de 500 pessoas, com penas que chegam a 17 anos de prisão por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e danos ao patrimônio público. Muitos condenados continuam presos, enquanto outros aguardam recursos ou cumprem medidas alternativas.
Diante disso, parlamentares da direita, incluindo membros do PL, PP e Republicanos, estão se mobilizando para aprovar um Projeto de Lei de Anistia. O texto precisa do apoio de pelo menos 257 deputados na Câmara para ser aprovado, além de passar pelo Senado. No entanto, mesmo que avance no Legislativo, o PL ainda poderá ser vetado pelo presidente Lula, o que abriria mais um capítulo na batalha entre os poderes.
Direita e esquerda em embate nas redes
O tema ganhou as redes sociais e virou campo de guerra entre os principais nomes da política nacional. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo com mais de 57 milhões de visualizações no Instagram, alegando que Débora e outros manifestantes foram punidos de forma desproporcional e estão sendo usados como “exemplos” pelo STF.
Nikolas também cobrou “igualdade de tratamento” ao citar a ausência de condenações a integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por atos de vandalismo ao longo das últimas décadas.
Do outro lado, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi direto ao ponto: acusou Bolsonaro e seus aliados de quererem “garantir impunidade para si mesmos” por meio do projeto. Segundo Boulos, o PL da Anistia seria, na verdade, uma manobra para livrar o próprio ex-presidente, generais e parlamentares bolsonaristas de possíveis condenações por tentativa de golpe. Seu vídeo já ultrapassou 1,5 milhão de visualizações.
E o que pensa o povo?
Segundo uma pesquisa recente do Instituto Quaest, 56% dos brasileiros são contrários à anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. A mesma pesquisa mostra que apenas 31% apoiam a medida, enquanto 13% não souberam responder. A opinião pública, portanto, pode ser um fator decisivo na pressão sobre o Congresso nos próximos meses.
O que esperar agora?
Com a base bolsonarista se rearticulando nas ruas e nas redes, o projeto de anistia tende a ganhar ainda mais atenção. No entanto, a resistência da esquerda e o possível veto do presidente Lula indicam que o caminho da proposta será turbulento.
Independentemente do desfecho, o ato da Paulista escancarou que o 8 de janeiro ainda está longe de ser página virada na história política do Brasil.



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